Ambicionado desde há séculos e colônia espanhola desde 1860, o Saara Ocidental foi considerado durante o regime franquista como província do Estado, negando as aspirações nacionais defendidas polo Frente Polisário. Em 1975, com Franco doente e incapacitado e o poder transferido provisoriamente ao príncipe Juán Carlos de Borbon, o herdeiro designado por el, a situação foi aproveitada polo rei de Marrocos, Hassan II, para organizar a Marcha Verde, com milheiros de persoas avançando cara a fronteira do Saara com a intenção de principiar a ocupação do território..
O Governo espanhol cedeu, entregando a administração a Marrocos e Mauritânia. Os saaráuis passaram de estarem colonizados polo Estado espanhol a o estarem de facto polos dous Estados vicinhos. Un caso único no processo de descolonização de Africa. A própria intervenção de Mauritânia na repartição desmentía a pretensão da marroquinidade daquel país. Mauritânia acabou renunciando a causa da pressão da Frente Polisário. Depois da decisão dos mauritanos, Marrocos tomou também o sur do Saara Ocidental, construindo um muro de 2000 quilómetros que separa o território ocupado da faixa interior administrada pola proclamada República Árabe Saaráui Democrática, com um Governo instalado no exílio de Tinduf, já na terra próxima de Algéria. Marrocos encerrou aos saaráuis num horrível apartheid. A República resistente foi reconhecida por 82 Estados e a ONU considera o Saara Ocidental como territorio não autónomo, negando o domínio de Marrocos e insistindo apesar de todos os atrancos na celebração de um referendo de autodeterminação. Porém, sem rejeitar esta possibilidade, o Estado espanhol aceita de facto a ocupação do Saara Ocidental e a proposta de uma suposta autonomia regional dentro desse Estado. Sacrifica os direitos dos saarauis em favor de umas relações com Marrocos que pretendendo ser equilibradas e de entendimento entre vicinhos estão sujeitas a contínuas ameazas.
Agora, expulsada da súa pátria, Aminatou Haidar sofre as consequências do abandono vergonhento de 1975. Activista saaráui de 42 anos, encarcerada durante quatro anos e candidata ao Prémio Nobel da Paz, regressava o 14 de novembro a El-Aaium desde Nova York depois de receber o Prémio à Corage Cívica que lhe outorgou a Train Foundation dos EEUU pola sua acção em prol dos direitos humanos no seu país. No momento da expulsão a policia marroquina retirou-lhe o passaporte por declarar que era residente no Saara Occidental e não em Marrocos. As autoridades do Estado espanhol, que admitiram o embarque num avião espanhol na capital do Saara Occidental e permitiram a entrada nas Ilhas Canárias malia a carência de documentação, converténdo-se assim em cómplices de um acto inumano, não sabem que fazer ante a determinação da saaráui, que quer manter a folga de fame até que lhe permitam voltar ao seu país sem renunciar aos seus direitos.
Quando isto ocorre, os voceiros do Governo magrebi, em boca do lider do partido do rei, ameazam ao Governo espanhol com “perigos que podem ter consequéncias sobre o seu porvir e o de Europa”, referíndo-se ao tráfico de drogas, o terrorismo ou o control da imigração clandestina, como se o cumprimento das suas responsabilidades estatais dependesse da aceitação polos demais de uma ignominiosa política repressiva. Contando com o apoio de Estados europeus, o Marrocos de Mohamed VI pratica a chantage mesmo quando se prepara um acordo de associação com a UE.
O Governo espanhol vem de receber uma dura lição. É este o momento de fazer valer outra posição ante Marrocos em defesa das aspiraçõs nacionais e dos direitos do povo saaráui e de reclamar tambén dos novos responsáveis da Política Exterior e de Segurança da UE o respeito, não só à autodeterminação do Saara Occidental, senão asemade e urgentemente os direitos humanos conculcados na persoa de Aminatou Haidar.
Camilo Nogueira Román naceu en Lavadores (Vigo) en 1936. Enxeñeiro industrial e economista, foi eurodeputado polo BNG entre os anos 1999 e 2004.