“Três anos para salvar o euro”, a portada de The Economist resumia assim, dous anos depois do estalido, o agora da crise económico-financeira. Fazia-o um semanário britânico que a cotio dá doutrina neoliberal, euroescéptica e pró-norteamericana, mas guardando as formas com certo rigor analítico, bem longe do tom ultra usado desde a City londinense e o Wall Street nova-iorquino polo império mediático de Rupert Murdoch.
Qué passou para em tão pouco tempo a consideração da crise como nascida no sistema financeiro de EEUU e dada por global se concentrar num problema da União Européia e em concreto da zona euro e dentro dela da Grécia? Não parece fantasioso pensar que nos centros dominantes do capitalismo financiero se agarra a ocasião para combater o avanço da União Européia como modelo político, económico e social, em tanto que se mira para outro lado ante os problemas internos e externos de EEUU e se elude uma explicação da evidência do crecimento das economias menos dependentes do sistema financiero internacional, com China, Índia e Brasil medrando a ritmos situados entre 7% e 10% anual e para além, negando inequívocamente a tópica interpretação da crise como um fenômeno global.
Ainda assim, seria enganar-se procurar fora da União Européia todas as explicações da ofensiva financeira contra o euro e contra a própria existência da instituición comunitária. Se bem é certo que valendo-se da debilidade conjuntural das economias de uma parte dos Estados da UE -em boa medida devida ao incremento da dívida pública por causa das políticas económicas anti-crise e das exigidas pola protecão aos desempregados- os mesmos bancos e entidades financeiras que tiveram que ser resgatados mediante uma injeccão maciça de fundos públicos teimam agora numa acção especulativa alucinada e criminal. Mas esta acção encontra na União Européia um terreno particularmente propício. Sem dispor de um Governo Económico com plena autoridade para estabelecer normas de comportamento, superados na maior parte dos Estados os níveis de défice orçamental permitido e obrigados a solicitar empréstitos internacionais, os inversores especulativos arremetem perversamente contra as economías máis fracas da UE, tirando partido da circunstância de que pertecem a um sistema monetario comum com um Banco Central limitado à fiscalização da inflação. O Orçamento da União, não atingindo mais que o equivalente a 1% do PIB comunitário e estando estritamento destinado a programas concretos, nem é válido nem está pensado para agir em favor da estabilidade monetária e financeira.
Nesta situação, as consequências da carência de um Governo Económico afectam tanto aos Estados que agora estão em pior situação, como Grécia, Reino Unido, Irlanda ou o Estado espanhol como os que resistem sem graves problemas como Áustria, Finlândia, Holanda, ou Alemanha. (Grécia tem um défice orçamental de 13,6% e uma dívida pública de 115,1%, quando o Pacto de Estabilidade a obrigaria como a todos a não passar de 3% e 60%, entanto que no Estado espanhol o défice anual chega 11,2% e a dívida pública a 53,2%, tendo o ponto débil no gravísimo desemprego que atinge 20% dos ocupados, dez pontos máis que a media da UE.)
Sabendo que na história da UE os saltos adiante cara a unidade cada vez mais estreita anceiada polos fundadores foram habitualmente precedidos de obstáculos e de importantes crises, é de esperar que o recém aprovado o Tratado de Lisboa será melhorado com a criação Governo Económico, uma velha reclamação feita desde que se estabeleceu a União Económica e Monetária por governantes como Delors, Miterrand, Kohl, González, Soares ou Jospin, pelos grupos que no Parlamento Europeu trabalhamos por uma Constituición da União ou de novo por destacados dirigentes no longo processo de crise suportado depois do Projecto de Tratado Constitucional.
Entretanto não fica mais remédio que estabelecer de imediato mecanismos que resolvam os problemas presentes, como o do recente apoio a Grécia, ainda que neste momento esteja pervertido por exigências procedentes do brutal arsenal do Fundo Monetário Internacional, ou a acometer com decisões como a deste dia, estabelecendo um fundo de defesa do euro ante os ataques especulativos. Em espera de um Governo Económico que actue quando for necessário como o de EEUU ante os problemas de Califórnia, mais graves que os da Grécia, sem o seu dólar ter que suportar as pressões e as tragadeiras insaciábeis dos voitres financeiros.
Camilo Nogueira Román naceu en Lavadores (Vigo) en 1936. Enxeñeiro industrial e economista, foi eurodeputado polo BNG entre os anos 1999 e 2004.